quarta-feira, 10 de setembro de 2008

De mais ninguém

"Se ela me deixou, a dor
É minha só, não é de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó,
Eu tenho a minha dor

Se ela preferiu ficar sozinha,
Ou já tem um outro bem.
Se ela me deixou a dor é minha,
A dor é de quem tem

E meu troféu é o que restou,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor

A sala, o quarto, a casa está vazia,
A cozinha, o corredor
Se nos meus braços
A dor é minha

É o meu lençol, é o cobertor,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor
Eu tenho a minha dor

A sala, o quarto, a casa está vazia,
A cozinha, o corredor
Se nos meus braços ela não se aninha
A dor é minha a dor"


Ando afastada do blog, sem tempo para escrever, sem tempo para ler blogs... Quando o ano acabar volto a fazer tudo que não posso agora...
Linda música que não sai da minha cabeça...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Vestibular UFC para Jornalismo: 23/11
Vestibular UFPE para Cinema: 23/11

Maldade ser no mesmo dia... Se possível, votem na enquete..

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Almoço desesperado

Sentaram-se na mesa mais próxima da janela, a fim de que o ambiente lhes parecesse um tanto agradável, apesar do calor que se fazia sentir.
A menina pediu o cardápio e, com carinho, olhou para o pai:
-Que vai querer?
-Qualquer coisa me satisfaz. Escolhe você.
E assim passaram a discutir sobre os exóticos pratos apresentados no cardápio e o que seria mais estranho consumir. Dessa forma a menina fazia a conversa correr solta, como se nada jamais pudesse perturbar momento tão cotidiano. Escolheram, por fim.
Enquanto esperavam, escutavam o vento passar, observando trivialidades ao redor: a formiga que passava apressada na mesa, a folha que voava livre por entre as pessoas do restaurante, o pé quebrado da cadeira ao lado.
-Como está quente, não pai?
-Sim, está.
-O que tem escutado?
-Não tenho tido tempo para escutar nada além do rádio.
-Que livros tem lido?
-Interrompi uma leitura de Saramago...
-A paisagem dessa janela é tão bonita! Queria ter uma paisagem como essa a ser apreciada da janela do meu quarto...
-E não tens paisagem alguma em tua janela?
-Tenho, a de casas alheias, e só
-Pelo a menos as tem, eu sempre miro o portão inerte ao abrir minha janela.
-Tão inerte como as casas que vejo.
-É, isso é bem verdade
-...
-O almoço está demorando, não, filha? Devo chamar o garçom?
-Pai...
-Sim?
-Estou indo embora!

Carta desesperada
"Como é difícil, como é difícil, Beatriz, escrever uma carta...
Antes escrever os Lusíadas!
Com uma carta pode acontecer
Que qualquer mentira venha ser verdade...
Olha! O melhor é te descrever, simplesmente,
A paisagem
Descrever sem nenhuma imagem, nenhuma...
Cada coisa é ela própria a sua maravilhosa imagem!
Agora mesmo parou de chover.
Não passa ninguém. Apenas
Um gato
Atravessa a rua
Como nos tempos quase imemoriais
Do cinema silencioso...
Sabes, Beatriz? Eu vou morrer!"
(Mario Quintana)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Casamento

Não sei muito bem porque, mas casamentos me intrigam. Toda vez que escuto que alguém vai se casar, os primeiros pensamentos que me vêm à mente são “será que eles realmente se amam?”, “será que vão mesmo se agüentar pelo resto de suas vidas?”, “será que vão suportar a monotonia que virá depois dos primeiros momentos de euforia?”

Fui a um casamento esse fim de semana, e as mesmas perguntas me perturbaram. Não acredito muito em casamentos, é verdade. Às vezes me parece que o matrimônio é um fato social tão forte, que as pessoas o fazem sem nem pensar direito se é este mesmo o rumo que desejam para suas vidas. Já está tão arraigada na sociedade a idéia do casamento, que me parece que algumas pessoas se sentem obrigadas a se casar, ou então simplesmente têm muito medo de morrerem sozinhas, ou quem sabe é um sonho que desde criança lhes foi imposto e, subitamente, tornou-se o maior objetivo de suas vidas. Ou não. Talvez realmente seja o verdadeiro amor o que faz com que tantos casais tomem a decisão de celebrarem votos de união eterna. Com certeza, vários deles se juntam por realmente desejarem passar o resto de suas vidas juntos... Mas será que eles sobreviverão às dificuldades do casamento? Perguntas idiotas, verdade. Afinal, o que tenho eu a ver com tais cerimônias que todo dia acontecem? Talvez eu tenha alimentado demais uma idéia horrenda sobre casamentos e tenha fechado minha mente para saídas mais amenas sobre este ato. O fato é que raras vezes consigo associá-lo com felicidade plena.

Enfim, lá estava eu como convidada desse dito casamento. Todos em pé, os padrinhos e madrinhas entrando, e a noiva sendo ansiosamente esperada por todos. Quando ela saiu do carro, esplêndida, trazida por seu pai, não entendi muito bem o que me ocorreu. Não sei se foi o violino que suavemente soava ou o entardecer que transcorria, mas meus olhos estranhamente se encheram de lágrimas. Quando olhei para o lado, minha irmã também estava com os olhos molhados. Rimos juntas, não sei se por estranharmos nossa súbita comoção ou se por uma sutil felicidade que tomava conta do ambiente. Que emoção terá me invadido? Será que, apesar de dizer todas essas coisas, no fim sou uma romântica que não resiste a essa estranha fascinação do enlace matrimonial?

Era uma cerimônia protestante. Noiva e noivo encontraram-se e uniram-se em frente ao pastor. Quando este disse que nossa amiga deveria ser submissa ao seu marido, minha mãe apertou minhas mãos. Com isso, ela quis dizer “não acredito estar ouvindo tamanho absurdo!”. Virando os olhos de impaciência, eu escutava o pastor proferir as obrigações que ele deveria ter para com sua mulher e a lista muito maior que ela deveria ter para com seu marido. Rindo baixinho, minha irmã sussurrou algo como “eles devem sair daqui quase que arrependidos de terem se casado!” Não tenho preconceitos com religiões, mas tenho o direito de me indignar com o papel que foi dado à mulher nessa ocasião específica. Minha comoção do começo havia rapidamente sido cortada. Eu desejava silenciosamente que ela jamais cumprisse a submissão de que lhe falavam.

Quando o sermão finalmente acabou, o jovem casal se virou e, com sorrisos, beijaram-se. E então se beijaram de novo. E então mais uma vez! E então eu voltava a me emocionar, a sorrir com olhos levemente molhados, a pensar “sim, eles estão apaixonados!”.

Naquele instante, resolvi esquecer as minhas apreensões quanto a casamentos. Se eles serão felizes mais tarde ou não, que me vale perguntar? Naquele momento eles pareciam felizes e tudo respirava romance! Pode soar ridículo, mas a cerimônia do casamento é realmente muito bonita, e descobri que me emociono com ela. Não sei se por achar que todo esse amor, que pelo menos parece existir, vai lentamente se esgotar, ou se sinto exatamente o contrário: que o momento do casamento representa o início da descoberta de um amor mais profundo e verdadeiro entre os dois.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Solitude

Ontem eu chorei. Nem estridente, nem demorado, meu choro me fez até bem. Foi assistido pelos carros vazios de passageiros, no estacionamento, e durou o tempo que um elevador gasta para chegar ao destino comandado. Ao entrar no apartamento, já tinha estampada a tranqüilidade em meu rosto, e um sorriso estava pronto a desbotar, caso alguém aparecesse. Foi com essas feições que segui para meu quarto, onde encarei no espelho olhos borrados de uma maquiagem mal feita e de um certo cansaço.

Havia me perdido no compasso de uma desilusão qualquer. Era como se tivesse esquecido qualquer noção de harmonia e, não conseguindo mais identificar a tônica da escala em que a música começara, não encontrava meios de finalizar aquele compasso. Somente a tônica me satisfaria naquele momento, porque eu desejava um encerramento que não desse idéia de continuidade. Não o encontrando, estava presa àquela canção infindável.

E no ritmo de uma melodia até serena, eu e a solidão buscávamos, juntas, os passos mais adequados a seguir. Em frente a um espelho já enferrujado, finalmente eu via a solitude tal qual ela era, com todas as suas formas quase perfeitas e suas definições quase poéticas. Naquele momento, somente a ela eu desejava. E era por ela que eu chorava.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Wall-E


Fui para a fila do cinema sem muita certeza do que gostaria de ver. O plano era comprar os ingressos para a nova animação da Disney – Pixar: Wall-E. Às vezes dispenso desenhos, é verdade. Não que eu não goste, mas alguns filmes infantis vez por outra se mostram tão clichês que têm esgotado meu desejo em vê-los. Uma apresentação dos personagens, alguns momentos de aventura e depois o final, onde tudo que se previra de bom acontece. É divertido, mas nem sempre tenho paciência para ver algo que há anos assisto.

Mas lá estava eu na fila do cinema, e decidi manter o combinado: assistiria a Wall-E. Não tinha lido ou visto nada sobre a animação, sequer um cartaz, mas resolvi arriscar pela segurança da genialidade Pixar.

Começa o filme. O ano é 2700. Wall-E é um robô que está a limpar a terra da imensidão de lixo deixada pelos humanos. Estes agora estão no espaço, uma vez que o planeta de origem tornou-se um lugar impossível para a existência de vida.

Rapidamente, o sentimental Wall-E cativa o espectador. Junto à sua baratinha de estimação, limpa com paciência e dedicação a Terra enquanto escuta à “Put on Your Sunday Clothes”, canção do clássico “Hello Dolly”. Sua sensibilidade é apresentada não apenas pelos olhos expressivos e um tanto melancólicos, mas também pela sua admiração tenaz por certos objetos que encontra em meio ao lixo. Coleciona-os em sua casa como verdadeiros tesouros.

Em sua morada também está a amada fita do musical “Hello Dolly”, escutada com especial atenção por Wall-E, principalmente na cena do romance entre os personagens Cornelius e Irene, com a música “It only takes a moment”. Mais uma vez evidenciamos a delicadeza do pequeno robô, que se encanta com o apertar de mãos do casal do filme. Nosso Wall-E sonha viver essa emoção do amor, num mundo devastado pela sujeira e pela solidão.

Dessa forma nos é apresentado o carismático Wall-E, com cenas praticamente sem falas e com uma ótima trilha sonora. As explicações verbais não são necessárias nesse momento do filme, o que não significa desatenção por parte dos adultos e pequeninos da sala de cinema, senão o contrário. O telespectador se vê inevitavelmente envolvido com o filme do começo ao fim. Antes de Wall-E, só o brilhante longa francês “As Bicicletas de Belleville” tinha me apresentado tal competência na animação. Wall-E cumpriu muito bem esse papel até, mais ou menos, a metade do filme.

Entra em cena novo peronagem. A robô Eve chega à Terra, despertando a atenção do solitário Wall-E. Logo ele se encanta pela nova companhia que aterrisa no planeta. O romance começa de forma encantadora, e assim continua no decorrer do filme. Eve, entretanto, veio com uma missão: procurar por uma planta. Quando o próprio Wall-E, apresentando carinhosamente a Eve sua preciosa coleção, mostra à Eve a planta que havia encontrado, o destino da robô se cumpre: ela se imobiliza para guardar o achado, até o momento de ser levada novamente para o espaço. Wall-E não a deixaria partir sem ele.
Extremamente cativante, a nova animação da Pixar demonstra o talento e a genialidade de seus criadores. Construíram um personagem que se faz conhecer aos telespectadores através de olhares, gestos e atitudes. As palavras não são necessárias para expressar a sensibilidade do robô Wall-E. A sutileza com certeza é valorizada nesse longa-metragem encantador, seguindo a nova linha de desenhos Pixar direcionados tanto às crianças como aos adultos. Saí da sala de cinema apaixonada pela animação que, no mínimo, deixa uma pontinha de esperança quanto ao futuro do nosso planeta, se tivermos a coragem de “reconstruí-lo” com amor. Aconselho para quem for ver o filme não deixar a sala antes de ver os créditos finais, repletos de belos desenhos que demonstram, de certa forma, a continuação do final do longa.
Não me arrependi de ter ido conhecer o sensível Wall-E!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

"Conseqüências da vida moderna"


Dia desses estava praticando velho vício que tenho, irritante por sinal, mas do qual ainda não consegui me livrar: cutucar meus dedos com alicate. Eu sei, é estranho, mas essa atividade me dá algum prazer, não me pergunte por quê. O fato é que, nessa brincadeira, arranquei também a parte de cima dos meus dedos. Calma, não se assustem! Quem toca instrumento de corda conhece aqueles velhos calos que ficam nas pontas dos dedos por conta do vício de tocar. Arrancando concentradamente meus calos de tocar violão (ou violino, nem sei mais a causa dos calos), fiquei a pensar se meus dedos não sofreriam quando voltasse a pegar no instrumento. Isso mesmo, “voltasse”, porque já passava certo tempo desde que eu não me deleitava com as notas dos meus amados instrumentos. Não faria então diferença arrancar a “proteção” dos meus dedos...

Causou-me certa tristeza perceber a desatenção que estou dando a algo de valor tão importante e simbólico. Quase todo meu tempo agora é ocupado com estudos. “Ó, que maravilha” alguém poderia dizer. Mas não, não há nada de extraordinário nisso, senão que se apresenta como situação um tanto vazia de sentido. Para que, afinal, tantas horas “presa” ao colégio, instituição que se diz fundamentada em estudos pedagógicos, mas na qual eu só tenho encontrado convenções puramente mercadológicas e fortemente ligadas às exigências capitalistas vigentes?

Talvez eu esteja sendo um tanto cruel com um colégio que tenta se diferenciar um pouco mais das várias empresas renomadas da cidade. Talvez o problema seja mais eu, que por vezes me sinto incomodada por estar abdicando de tanta coisa e dando tanto do meu tempo e meu esforço para a famosa prova do fim do ano: vestibular.
Certo, não apelemos ao exagero e a dramatização extrema. Estudo, mas nem tanto assim, e sei muito bem os objetivos que me levam a despender tanto do meu dia na escola: num futuro próximo, estar cursando uma faculdade e ver-me livre das regras que tanto odeio nos colégios (e volto a ser cruel). O fato é que minha inconformação não se limita à realidade que estou passando no momento, e que muitos outros também estão vivendo. Minha inconformação parte justamente desse fato, o tipo de vida que TODOS nós estamos levando agora. Chego vários dias da semana extremamente cansada, com vontade apenas de dormir; passo horas do dia estudando assuntos que, provavelmente, depois da tão temida prova, não me servirão para nada; deixo de fazer coisas tão importantes, como tocar violino ou escrever para o blog, para estar estudando aqueles conteúdos. E não sou só eu. Quantas e quantas pessoas passam horas e horas trabalhando na ilusão de que fazem isso para serem felizes. E que felicidade, que prazer estão encontrando afinal? Têm essas pessoas tempo para usufruir de todo o dinheiro que ganham, se passam o dia a estressar-se com assuntos tão arraigados ao sistema vigente?
Não estou aqui a dizer que sou uma menina que estuda tanto que se possa comparar com alguém que passa o dia no escritório, não me entendam errado. O que estou dizendo é que, desde esses meus dezessete anos, parece que toda uma sociedade já está me preparando para fazer isso. Estudo em tempo integral; disseram-me uma vez que isso era bom, porque assim vou me acostumando a vida que irei levar quando entrar para o mercado de trabalho. Dezessete anos e já me estresso, fico irritada com os outros, até adoeço facilmente pela pressão que eu mesma exerço sobre mim. Porque, na verdade, a primeira a me cobrar a me dedicar integralmente a esses estudos sou eu, afirmando que isso me levará a um prazer futuro. Isso não é, de todo, mentira. Mas será que esse ano minha vida se resumirá somente ao vestibular? E todos os outros conhecimentos, que o colégio faz questão de não oferecer, onde eu os adquirirei? Esses conhecimentos que só vêm com a vivência coletiva, junto à sociedade?
Falando um dia para o meu professor de violino que estava tão “atolada” aos estudos que nem tempo para treinar eu tinha, ele me disse “Conseqüências da vida moderna”. Que vida moderna maravilhosa todos nós estamos passando! Eternamente estudando, trabalhando, e às vezes nem sabendo ao certo o porquê. Uns são escravos de empresas, dando lucros exorbitantes para outros enquanto são explorados. Outros estudam para um dia fazerem isso, explorarem ou serem explorados.
Sim, me perdi em devaneios. O fato é que arrancar os calos de meus dedos não prejudicou o ato de tocar. Eles já são resistentes e não sofrem mais com tal deleite. E descobri isso porque, enfim, voltei a tocar. Agora o que me impede de treinar mais é uma certa indisciplina, assunto para outro texto talvez, mas não mais a culpa de achar que eu deveria estar estudando química em vez de estar escutando música. Nessas férias, reservarei também para mim certo ócio (estou criando coragem para isso!), que seja totalmente livre de qualquer culpa, esta implantada pela agitação que acho ser obrigada a ter todos os dias.
A verdade é que não me incomodo em estudar. É algo que gosto de fazer (dependendo das matérias em questão) e que sei que me proporcionará uma realização maior. Só não quero que esse estudo seja realizado de forma a reafirmar uma idéia já tão arraigada nos indivíduos frutos dessa sociedade moderna: que precisamos dedicar toda nossa vida às exigências do capitalismo. O estudo real vai muito além dos assuntos que estou vendo agora. Espero encontrar brechas nesse sistema que me permitam descobrir outras formas de me realizar.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Jornalzinho censurado


Eu e um grupo de amigos estamos com um projeto de fazer uma jornalzinho do colégio. Levamos o projeto à direção e este foi aprovado. Deram-nos, então, quinze dias para fazermos o esboço de um primeiro jornal, para que apresentássemos o projeto para os demais alunos do Ensino Médio. O plano seria assim divulgar e convidar os interessados a participar da produção do jornal.

Eis que nós oito escrevemos os textos para essa primeira edição. Escrevemos sobre a censura na ditadura militar, na sessão intitulada "Voltando na história"; escrevemos sobre a parcialidade na imprensa, na sessão "Atualidades", texto em que foi discorrido, entre outros exemplos, sobre a enorme atenção dada ao caso Isabella Nardoni; fizemos uma matéria sobre se o jovem de hoje ainda é político, em que discutimos sobre reivindicações estudantis e sobre entrevistas que fizemos com os jovens de Fortaleza; e fizemos uma resenha crítica sobre o filme "Uma onda no ar", na sessão de indicação de filmes, livros e sites.

Ao entregarmos o jornal devidamente digitado e diagramado para a psicóloga, eis o que ela nos diz: que estava numa linguagem muito difícil e densa para os alunos; que política não seria um assunto que despertaria o interesse dos outros estudantes; que tínhamos feito um jornal para nós, que éramos minoria, e deveríamos ter feito para a maioria; que os acontecimentos de 1964 seriam considerados pelos nossos colegas como "assunto do tempo do meu avô"; sugeriu que nos baseássemos em assuntos que revistas jovens já existentes abordam, como as mudanças que ocorrem no corpo no período da adolescência, o dilema entre namorar ou ficar, teste para ver se o jovem é estressado; para completar, ela ainda disse que o jornal estava muito revolucionário.

Falando parece até mentira, mas foi exatamente o que nos ocorreu hoje a tarde, escutamos tudo isso da psicóloga do nosso colégio. É triste pensar que até mesmo nossa psicóloga continua querendo reforçar a idéia de que o jovem do ensino médio não pensa sobre política, que o que deve interessar a ele são assuntos de natureza individual e não coletiva. É triste perceber que não recebemos o apoio do colégio para provarmos o contrário, que os jovens ainda pensam sim em política e ainda possuem um espírito revolucionário.

Mas apesar de falar tanto em tristeza, o que fizemos de verdade foi rir. Rimos muito da situação. Foi cômico ouví-la dizer que nosso jornal estava muito revolucionário, uma vez que era exatamente esse nosso objetivo e foi exatamente isso o que a incomodou. O interessante foi ver como realmente incomoda a instituições privadas, mesmo institutos de ensino, que jovens falem sobre reivindicação estudantil e política. Mais interessante ainda foi ter a certeza de que não nos sentimos nem um pouco desestimuladas a continuar com o projeto, senão o contrário: agora que o projeto está começando a acontecer realmente. Todos estão motivados a levar o projeto a frente e mostrar que os estudantes de colégio não são tapados nem burros, que eles pensam e agem. Veremos o que a psicóloga dirá quando os demais alunos concordarem com a publicação dessas matérias e escreverem sobre assuntos tão interessantes quanto. Como disse meu avô, é bom ser estudante, porque assim não seremos despedidos de emprego algum! ;p

sábado, 10 de maio de 2008

Mario Quintana


Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!

Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!

'Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!'
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
'Que tédio!' o coro dos Amigos clama.

'Mas que vos dar de novo e de imprevisto?'
Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
'Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!'

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Björk's songs


Quando a música começa, tudo me parece diferente. A chuva, o entardecer, a lua que desponta lá fora... Os rostos, os olhares, os modos de andar... Os abraços, os beijos, as alegrias dos que caminham nas ruas solitárias, tímidos ante meus olhos observadores... Fico mais sensível a tudo. Parece a cena de um curta mudo, mas expressivo, melancólico, sutil, esplêndido.
Nada me vem à mente a não ser o que está externo a mim. O que é inerente à minha alma vagueia em busca de lugares que aceitem perdas inestimáveis e culposas. Sonhos de outrora se expressam agora numa ausência indecifrável.
E o curta continua, levando-me ao som dessa voz esplêndida, para um mundo onde tudo me pertence, o concreto e o abstrato. Só me resta fechar os olhos para o que não é mágico e simplório ao mesmo tempo, guardando todo o resto em minha alma errante nesses curtos minutos de tristeza e beleza.
Parte do que vivi passa rapidamente em minha mente durante a música, se expressando no meu olhar aparentemente vazio, mas cheio de vivacidade e paixão.

A música termina, volto ao mundo real, são os mesmos rostos, os mesmos asfaltos, as mesmas vidraças. O que era monocromático volta a ter cores incômodas, e o aspecto de sonho se desvanece para dar lugar ao concreto.
Escutá-la antes de dormir me dá medo...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Feriado

Mais um dia, nada demais. Mal lembro que pensamentos me ocorreram ao acordar, nem o que comi pela manhã. E também não tenho desejo de me lembrar, não faz diferença agora. Nada me perturba nem nada me agrada. Estou apenas como uma mera observadora dos acontecimentos, mas um tanto afastada, um tanto indiferente a eles, como se agora, finalmente, habitasse um pouco de paz em mim.

É apenas um dia vazio, não há nada para explanar sobre. Minha mente foi ocupada, por algumas horas, pelos povos da Antigüidade. Mas por alguma razão, estes não me pareceram mais tão maravilhosos hoje. Eram apenas letras num livro já velho, gasto pelo uso, com folhas amareladas marcadas pelo tempo, que outrora foram folheadas por estudantes como eu, ora impressionados, ora cansados. Todavia, não me sinto de nenhuma dessas formas hoje. Não hoje, tão somente hoje.

E amanhã volto ao cotidiano de sempre, eternamente igual, até os últimos raios de sol dos meus dias finais. Porque sempre haverá um que de mesmice, de tédio, de nada, seja qual for o ritmo dos meus dias futuros. E espero que, quando estes chegarem, eu não esteja, como agora, pensando em outros dias futuros...

E continuo sem nada para fazer, com pensamentos tão tediosos quanto esse texto. Ora aguardando o amanhã, quando me verei livre de pensar sobre isso, envolvida nos pequenos problemas diários; ora vivendo esse vazio sem fim das tardes de feriado.

quarta-feira, 23 de abril de 2008


Nada faz sentido. Estou num lugar e, de repente, encontro-me em outro completamente diferente. Os rostos não são os mesmos. Por vezes aparecem distorcidos, e repentinamente sofrem mutações tão significativas, que se tornam outras pessoas. Amigos, conhecidos, desconhecidos... Estão todos lá, habitando esse mundo... Fazem parte do que sou e me pertencem. São eu mesma verdadeiramente, e me assustam, me agradam, me felicitam, me entristecem. Porque me mostram cantos que jamais ousei visitar, os mais sombrios de minha mente, às vezes os mais hilários e ridículos. Mostram meus verdadeiros desejos e temores, tudo que desprezo junto a tudo que almejo. Quase sem disfarce algum, quase sem nenhuma espécie de recriminação. Apenas habitam, e me perturbam, e sussurram ao meu ouvido, com silenciosos shows internos de horrores e aventuras. Sutilmente habitam, vêm à noite revelar anseios tão cuidadosamente guardados ou aparentemente esquecidos. Vêm revelar o mais podre e sujo, o mais belo e meigo, o mais estranho e confuso, o mais certo e evidente... Em meio a esse paradoxo, acabo sempre me encontrando, mesmo que por meio de desencontros e antíteses. Acabo sempre me redescobrindo na própria confusão que formei. A esquisita personalidade que não conheço, no mundo dos sonhos, vem à tona jorrar em minha face parte do que sou e do que nunca serei. Sonhos que reafirmam a certeza de que, por completo, jamais me conhecerei.


Quadro de Salvador Dali "Sonho Causado Pelo Vôo de uma Abelha ao Redor de Uma Romã um Segundo Antes de Acordar"

sábado, 19 de abril de 2008

"Todo coração é uma célula revolucionária"


Edukators, de título original “Die fetten Jahre sind vorbei” (“Os dias de fartura acabaram”, em alemão) é um filme incrível, que incita a discussões sobre capitalismo e revolução. Longe de ser uma produção clichê, o emaranhado de acontecimentos e as conversas ao longo do filme passam a envolver o espectador de maneira instigadora, levando este a refletir sobre as mais diversas questões.
O enredo gira em torno de três jovens. Jan e Peter fazem protestos pacíficos, invadindo mansões e desorganizando todos os objetos da casa. Deixam, por fim, uma frase: “Seus dias de fartura acabaram. Assinado: Os Edukadores” (entre outras frases). Jule é namorada de Peter. Passa por problemas financeiros por ter batido numa Mercedes. Quando Jule e Jan invadem a mansão do milionário Hardenberg, dono da Mercedes, nem tudo sai como o esperado. Jule esquece o celular e, voltando lá com Jan, são flagrados pelo dono da casa. A solução: seqüestrar o milionário e decidir o que fazer.
Por todo o filme, são levantadas discussões sobre a dificuldade de revolução nos dias atuais. Nos anos setenta, ter cabelo comprido, calça boca de sino e boina já era ser contra ao sistema. Mas e hoje? Como fazer revolução na sociedade capitalista vigente? Os jovens ainda têm ideais de mudança social?
Como bem diz Jan: quando as pessoas têm tempo para pensar em revolução assistindo a 4 horas diárias de televisão? Sofremos um verdadeiro bombardeio de propagandas e modelos comportamentais e ideológicos, que nos apresentam a felicidade como algo a ser comprado e consumido. A solidão e o individualismo que isso acarreta começarão a sufocar alguns mais sensíveis. “Os antidepressivos não vão mais funcionar”, dizia Jan para Hardenberg. Irão as pessoas buscar outras formas de se viver?
Dizia Jule: acham que já está tudo feito e não há mais nada a fazer. Ou então, aceitam o pensamento dominador de que é impossível mudar o mundo: as coisas estão aí e devemos simplesmente nos adaptar ao sistema. Essa é uma das grandes questões: como não se enquadrar no sistema? Uma parte interessante do filme é quando Hardenberg, que havia sido revolucionário na juventude, comenta a mudança que gradativamente sofreu: começou comprando um carro no qual se sentisse mais seguro; depois se casou, teve filhos, precisou sustentar a família, a educação é cara... De repente, se surpreende quando, numa eleição, seu voto é conservador. É possível fugir totalmente desse sistema? E nessa malha de acontecimentos, é possível não perder seus princípios?
Depois da descrença numa real mudança, a acomodação talvez seja um dos grandes empecilhos à guinada de uma revolução. Permanecer na inércia de não fazer nada, assimilando valores não condizentes aos seus, é quase como perder sua consciência sobre o que ocorre, simplesmente aceitando a opinião de terceiros como a verdade.
“Todo coração é um célula revolucionária”, escreveram Jan e Jule na parede do apartamento que ela havia alugado. Todos nós somos aptos a promover mudanças. Por que, então, não aspiramos a isso? Ou melhor, aspiramos, entretanto, porque não nos empenhamos em novas atitudes? Será que não temos nada a fazer, ou não temos motivos para fazer, ou simplesmente nunca pensamos sobre o assunto?
Essas são algumas das questões que sempre me vêm à mente quando vejo “Edukators”. Mas um texto meu jamais provocaria a sensação que o filme causa. De que algo está se perdendo, foi lentamente esquecido, mas que ainda permanece no coração de alguns insatisfeitos com o sistema.
Antes eu pensava que, na minha condição atual, não teria capacidade nem meios para realizar algo como os jovens de “Edukators”. Isso, entretanto, é o pensamento de um acomodado. Sempre há o que fazer, o importante é não permanecer indiferente a essas questões. É possível se fazer revolução nos dias de hoje? Existe algo a ser feito? Deixo essas perguntas aos leitores. Espero que me ajudem a responder. E, se possível, assistam a esse filme incrível!!

sábado, 12 de abril de 2008

Mistérios

Dois velhinhos estavam casados há mais ou menos quarenta anos. Tinham uma tradição desde que eram novos: no dia dos namorados, ela fazia um bolo de fubá para o seu marido. Entretanto, num certo ano, depois de tantos de casados, ela esqueceu-se, e só no dia seguinte lembrou que não havia preparado o bolo. Com preocupação, falou ao seu marido:

--Esqueci-me de preparar o bolo ontem! Irei fazer agora!

Com certa surpresa, ela ouviu a resposta do esposo:

--Não, não precisa!

--Mas você gosta tanto! – ela exclamou

--Na verdade eu não gosto muito, eu comia porque você gostava de fazê-lo e eu não queria desagradá-la!

Quem me contou essa história foi um professor de português que tive, quando fazia a 8ª série, e nunca esqueci. Só depois de tanto tempo, a mulher teve conhecimento do verdadeiro gosto da pessoa com quem vivia há tantos anos. E nós, que temos amigos, por exemplo, de apenas quatro anos, já achamos conhecer tudo dele!

Ingenuamente, achamos que, após alguns anos de convivência com alguém, já conhecemos tudo da personalidade daquela pessoa. Até nos sentimos no direito de prever suas atitudes frente à determinada situação. O relato do meu professor me fez pensar que, talvez, não seja bem assim. Mesmo depois de anos num relacionamento com alguém, talvez jamais conheçamos totalmente essa pessoa. Porque, verdadeiramente, somos todos um grande mistério. E este que incita às grandes paixões.

Ver no outro um eterno mistério é estar eternamente enamorado. A cada dia, a pessoa amada pode apresentar-se como algo novo. E você, que pensava conhecê-la tão bem, descobre que ela possui muito mais a ser desvendado. Essa sensação é tão estranhamente fascinante! Porque é maravilhosa a concepção de “metamorfose ambulante”. Todos nós somos (ou no mínimo, estamos sempre propícios a ser). A toda hora estamos em constante mudança. Um curto momento pode mudar toda nossa concepção sobre a vida e, de repente, nos descobrirmos totalmente diferentes do que antes éramos. Somos também um grande mistério para quem nos ama!

Talvez seja essa uma das mágicas dos relacionamentos humanos. Crescendo juntos, vivendo juntos, sempre descobriremos algo novo sobre o outro e sobre nós mesmos. Apesar da certeza ser algo aparentemente confortável, nada nos é certo nessa vida, a não ser a morte. E talvez seja justamente a dúvida sobre todas as coisas o que mais nos encanta no ato de viver. A toda hora, esse encanto se faz presente até mesmo nas pessoas mais próxima, aquelas que achamos conhecer tão bem. Num momento repentino, essas mesmas pessoas podem se revelar como algo totalmente inusitado, despertando novamente a curiosidade em entender aquele antigo mistério, que para sempre será um mistério.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Água

O ser humano parece sempre se cansar de tudo. Se cansa da rotina que leva, do trabalho que realiza, às vezes até mesmo das pessoas com quem convive todos os dias. Reclama da falta de emoções, de aventura, de novidades. Parece enjoar de tudo e sentir a necessidade de ver aflorar todas as suas paixões, como se desejasse que estas se materializassem na sua frente, em busca de qualquer coisa maior.

Inicia, pois, um esquecimento de tudo que antes lhe era de imenso valor, a procura de novas sensações. Não as encontrando, entra em depressão e profunda melancolia, dizendo não haver mais sentido em sua vida. Quando, entretanto, tem seu intento realizado, e perde de alguma forma tudo aquilo que dizia lhe entediar, entra em profundo arrependimento. E chora, e grita, e esperneia, como uma criança, desejando novamente o que outrora lhe pertencia. Descobre que as aventuras a que se entregou não são o que precisava. Alega tal incoerência dizendo antes não enxergar o quão feliz era. Só agora consegue ver a felicidade que tinha em mãos, mas que deixou esvair-se por entre os dedos.

Quão cegos somos nós, seres humanos, que precisamos perder o que temos para darmos a devida importância. Porque só conseguimos enxergar o que se faz extremamente brilhante, brilho este provindo, entretanto, de falsas lantejoulas. O que sempre estava lá, que era, na verdade, o que nos movia a continuar, não percebíamos como essencial. Como a água, que todos os dias bebemos, nos mantém vivos, nos é essencial e, todavia, insistimos em dizer que é insípida, incolor e inodora, sem nunca pensar que sem ela jamais existiríamos. Estamos sempre procurando algo mais que simplesmente a vida, em vez de reconhecê-la a todo momento em cada manhã, em cada ação e em cada pessoa. Mas não, precisamos de emoções repentinas e avassaladoras para nos incendiar e nos dar a certeza de que estamos ali. Somos tão extremamente limitados, que não enxergamos a felicidade no mais despercebido detalhe. Quando perdermos este, será a mais grandiosa saudade. Resta-nos descobrir qual esse detalhe, que mantém nossa chama discretamente acesa, entretanto com a intensidade necessária para se perpetuar até nossa morte. Ações, momentos, pessoas...? Próprio de cada um desvendar...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Compra cd ou não comprar? Eis a questão!

Estava eu nas Lojas Americanas, com dois amigos, olhando descontraidamente os CDs, quando me deparo com a capa ao lado. "Back to Black", por Amy Winehouse. E o preço: R$14,99. Quase não acreditei! Há muito desejava o álbum desta tão talentosa cantora, mas nem havia cogitado a possibilidade de comprá-lo. Imaginava-o num preço demasiado alto para a minha condição atual de "estudante ainda dependente dos pais".

No entanto, lá estava nas prateleiras uma versão promocional do disco, em que a capa é de papelão e não vem acompanhado pelo típico encarte do cd. Todavia, todo o resto era igual: mesmas músicas, mesma foto, tão original quanto o outro. Não seriam detalhes irrelevantes que me fariam pagar doze reais a mais na versão não-promocional.

Enquanto permanecia com o CD em mãos, desenvolvia tais pensamentos, quando Pedro falou algo como:

--Não compre esse CD! Ela já está rica demais. Posso baixar todas as músicas para você.

Eu tinha que admitir esse fato: estaria dando mais dinheiro para alguém já tão rico, que por sinal adora gastar suas finanças em todo tipo de droga. Para que gastar minhas limitadas economias em algo que poderia ter facilmente acesso de graça?

Neste momento, lembrei do meu pai, mestre em comprar discos em promoção (e com um ótimo acervo de CDs, diga-se de passagem). Lembrei, pois, o quanto me satisfazia, ao chegar em sua casa, ter aquela enorme opções de CDs para ouvir, capas e encartes para olhar, relembrando discos que marcaram minha infância... Nossa geração, ao contrário da dos meus pais, quase despreza os discos compactos. É considerado por muitos como algo ultrapassado. A moda agora é baixar todas as músicas e passar para o mp3, mp4, mp5, seja qual mp for, tapando seus ouvidos para o resto do mundo. Alguns ainda passam as tão amadas músicas para um cd virgem (de validade mais curta que o cd original); outros preferem deixá-las no computador. Não me imagino colocando um filho meu (que porventura eu venha a ter, num futuro distante) para dormir ouvindo músicas vindas de um computador. Mesmo se eu me utilizar da tática de grave-las em CDs virgens (para escutá-las melhor no aparelho de som), meus filhos, quando maiores, não se divertirão vendo as capas e encartes de álbuns antigos, tal qual hoje me encanto vendo as dos vinis.

Nada contra baixar músicas. Eu mesma de vez em quando faço isso e amo essa facilidade. É maravilhoso ter disponíveis músicas de graça! Ainda sim, sou amante dos CDs. A ansiedade em chegar em casa, após a compra de um novo álbum, para colocá-lo no som, deitar no sofá, e tranqüilamente ouvir suas músicas... Isso vale tudo!

Por isso, acabei rejeitando a proposta de Pedro e decidi levar para casa o novo disco de Amy Winehouse. E foi com prazer que desfrutei de todas as suas músicas antes de dormir! Deixa para a próxima as músicas baixadas. ;p

sábado, 29 de março de 2008

Último Romântico




Sim, sou romântica. Sou nostálgica e saudosa. Sempre estou a relembrar meu passado, como se quisesse recuperar uma felicidade perdida. Sempre estou a relembrar momentos infantis como os mais puros de minha existência.

Sim, sou romântica. Sou estranhamente melancólica e sentimental. Dou demasiada importância às emoções, permitindo que estas aflorem, de maneira até exagerada para muitos. Sinto-me invadida por acessos de choro e raiva imensa.

Sim, sou romântica. Valorizo a amor intenso e as paixões avassaladoras. Dessa forma, me parecem muito mais reais. É como se acendessem uma chama que me impulsiona a viver intensamente.

Sim, sou romântica. Sinto-me atraída pelo mistério e pela morbidez, apaixonada que sou pelas diversas formas em que a tristeza e a escuridão se manifestam no homem. O pessimismo parece por vezes se apossar do meu ser, sussurrando ao meu ouvido idéias de abandono deste mundo.

Sim, sou romântica. Ainda me encanto com as novelas de cavalaria e lendas medievais. Sou grande apreciadora das lendas celtas, dos contos fantásticos de bruxas e ilhas perdidas nas brumas. Ainda me sensibilizo com os amores impossíveis de cavaleiros e damas.

Sim, sou romântica. Ainda acredito em utopias de um mundo totalmente justo, onde não há espaço para a exploração humana e todos são tratados como iguais. Onde seria possível a sociedade alternativa do mestre Raul!

Então não, não sou romântica...

Não sou romântica por que não me volto apenas para o meu ego. Exatamente pelo fato de almejar à mudanças sociais, saio desse mundo particular para enxergar todo o coletivo que me cerca.

Não, não sou romântica. Não acredito na figura de heróis perfeitos. Um grande feito nunca parte de uma única pessoa, e sim de várias. Gosto de lembrar estas pessoas que foram esquecidas pela história, mas que realizaram silenciosamente grandes ações. E de lembrar o herói como um humano, cheio de defeitos, igual a tudo na vida.

Não, não sou romântica. Vejo o humano multifacetado, e não plano, feito apenas de sentimentalismos e amores puros. O ser humano é sentimento e é instinto. Sou admiradora da análise psicológica do ser como um todo.

Não, não sou romântica. Não idealizo o objeto amado como perfeito e intacto. Não tenho a ilusão de encontrar o príncipe encantado medieval. Gosto de saber que ele é tão cheio de defeitos e incertezas quanto eu o sou. Não o vejo, dessa forma, como algo que me é inalcançável.

Não, não sou romântica. Não acredito no casamento como o principal objetivo das paixões, em que depois da cerimônia tudo é apenas felicidades. Visualizo, na verdade, muitos problemas inerentes ao ato do casamento, que eu talvez não seja capaz de, no futuro, suportar.

Não, não sou romântica. Não tento enfeitar a realidade com flores e criar um mundo à parte, na ilusão de que este último condiz com a realidade. Procuro enxergar as coisas de maneira pouco mais realista, em vez de encher-me de ilusões absurdas.

Pelo menos isso é tudo que penso ser, porque, na verdade, sou uma incoerência, tal qual esses pensamentos sobre eu mesma talvez o sejam. Verdadeiramente, sou uma grande contradição... Tal qual os românticos o são... Sim, afinal, sou uma romântica!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Dia de uma vestibulando!


Ano de vestibular é realmente estressante! Muitas aulas por dia, muita matéria atrasada, muita pressão em cima de você. Vez por outra tenho ímpetos de esquecer todas essas preocupações, e acabo tendo meu dia perdido no que se refere a estudo.

Eis o que me aconteceu hoje. Perdi-me em devaneios durante as aulas, conversei asneiras em vez de prestar atenção nas explicações e ainda deixei de copiar as anotações dos professores.

Como se não bastasse, quando finalmente me propus a realmente estudar, sendo que em grupo (eu e Luana), vi-me de repente deitada nos bancos do colégio, discutindo sobre a existência de espíritos!

Mas nem tudo estava perdido! Ainda poderia estudar quando chegasse em casa (depois da minha aula de violino, lógico). Peguei o ônibus ansiosa. Sabia que o violino me serviria de descanso para, então, sentir-me novamente estimulada a enterrar-me nos livros.

Entretanto, ao chegar na Viva Música Viva, recebi a notícia de que meu professor não chegaria a tempo para minha aula. Lá se ia meu estímulo!

Mas, novamente, nem tudo estava perdido! Ainda havia o jantar. Depois de bem alimentada, não me faltariam forças para revisar a matéria. Com este pensamento, fui esquentar minha sopa. Enquanto aguardava, liguei a televisão.
Eis meu grande erro! (ou talvez meu grande acerto!).

Ao mudar para o canal da "TV União", começou a passar um clipe do "The Cure". A música era "A Forest". Robert Smith quase irreconhecível: sem maquiagem, sem o cabelo despenteado e com feições muito jovens. Deleitei-me com meia hora dos mais psicodélicos e estranhos clipes, próprios do "Cure". Fiquei a dançar na cozinha ao som de "Boys don't cry" até "End of the World"

Quando então pensava ver-me livre das tentações musicais, inicia-se nova maratona de clipes, dessa vez do Strokes. Não podia sair agora! Curti (agora calmamente deitada no sofá) o som dos nova yorkinos, do qual sou grande fã! (apesar de ter-me decepcionado um pouco com o último CD).

A essa hora, já havia terminado o meu jantar e nem lembrava-me mais da apostila guardada. Após Julian Casablancas, minha mente se ocupava apenas com Jim Morisson, que agora brilhava na tela junto à sua banda: The Doors! Ninguém pode negar: eles são espetaculares! Tudo me parece diferente ao escutar os solos tão característicos do teclado de Ray Manzarek.

Terminada a sessão "The Doors", levantei-me do sofá. Oh, não! Iniciava-se os clipes do "The Clash". É, só faltava mesmo uma banda da década de setenta para completar o ciclo (The Doors: final dos anos 60, The cure: anos 80, The Strokes: anos 00). Depois deles era só aguardar a banda que mais marcou os anos 90: Nirvana.

Mas o dever me chamava. Tive que ir lavar a louça. Fiquei escutando ao longe a música que vinha da televisão (é, até eu pensei que ia estudar naquela hora).

Entretanto, uma estudante não desanima! Afinal, música também é cultura! ;p Meu tempo não foi por completo perdido. Amanhã é um novo dia! Amanhã sim, eu hei de estudar! xD

terça-feira, 25 de março de 2008

"Quando eu era criança...


Adoro observar as pessoas. Como elas caminham, como falam, como sorriem, como olham. Entretanto, sempre corro o risco de ser mal interpretada. Se passo muito tempo olhando fixamente para uma pessoa, logo está entenderá mal minha atitude: ou se incomodará, achando que talvez eu esteja silenciosamente julgando-a, ou terá errôneamente o velho pensamento de "segundas intenções".
Eu entendo, talvez me passem os mesmo pensamentos se surpreendo alguém a me observar. Como todos, não conseguiria sustentar o olhar ao meu observador. É justamente isso que amo nas crianças.
Já perceberam que um bebê normalmente sustenta o olhar? Fixam as grandes pupilas em você e podem fazer aquele momento perdurar longos instantes, sem se intimidar pela insistência dos olhos de seus observadores. É como se pudessem até mesmo enxergar o mais puro de nossas almas. Talvez por isso arriscam, às vezes, um tímido sorriso, tão cheio de vida e tão sincero!
Mesmo quando um pouco mais crescidos, continuam a possuir essa firmeza marcante. Brincam a vontade e agem naturalmente, seja qual for a ocasião. É só observar crianças de três, quatro anos, que correm, gritam, choram, riem, sem se importar com os impertinentes observadores, estes tão saudosos da sua espontaneidade de outrora, quando também, como aquelas crianças, olhavam e sorriam sem as conveniências de agora.
Por isso adoro observar aos nenéns e às crianças. Porque entendem meu olhar e minha admiração, entendem a saudade que sinto ao observá-las com tanto carinho e atenção. Saudade da minha infância, da minha antiga descontração.
Hoje sou mais tímida, mais calada, mais comedida. Hoje não tenho a eterna alegria e as doces brincadeiras. Fui ficando mais irritada, mais pensativa, exalando melancolia. Fui perdendo a coragem de olhar os demais profundamente, buscando inocentemente suas almas. Agora, procuro esse brilho apenas no olhar das crianças, como se tentasse achar uma felicidade há tanto esquecida.
"Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança"

segunda-feira, 24 de março de 2008

Enfim, um blog!

Quando temos um pensamento de grandeza sobre nós mesmo, temos uma visão medíocre acerca do mundo. Entretanto, quando nos reconhecemos como uma parte ínfima do universo, agora sim estamos ampliando nossa forma de enxergar o que nos cerca.
Quando ouvi essa idéia na tarde de sábado, confesso que me senti um tanto que consolada. Afinal, quem nunca se sentiu inútil frente à imensidão do planeta? Todavia, reconhecer-se como uma mera gota é o primeiro passo para perceber a existência de um enorme oceano, repleto de possibilidades incríveis e mistérios que talvez jamais possamos desvendar. Isso sim é ampliar horizontes. Se nos limitamos apenas à visão de nós mesmos, jamais conseguiremos sequer imaginar o quanto existe no mundo a ser desbravado.
A verdade é que muitas vezes sinto-me extremamente pequena, e por isso mesmo, incapaz de realizar algo grandioso. Foi então que percebi que me sentir menor é um sinal de que, no fundo, enxergo quão enorme são minhas possibilidades de ação. E o que vou fazer diante de tantas possibilidades? Desvalorizar meus feitos por achar que são medíocres frente a tantas ações incríveis? Aí está o meu erro e o de muitas pessoas. Porque, verdadeiramente, não precisamos ser grandiosos nem melhores que ninguém. Precisamos realizar nossas potencialidades de acordo com o que nos é possível fazer no meio em que nos encontramos, e realizá-las da melhor forma possível. Não precisamos, para isso, utilizar-nos de comparações nem ter intuitos de grandeza. Precisamos, apenas, realizar. Este é o foco: realizar. É não sentir-se intimidado por ser tão pequeno, reconhecendo ao mesmo tempo o quão importante é sua autenticidade. O que você realizará nessa vida, ninguém mais fará. Isso acarreta grande responsabilidade!
E o que tudo isso tem a ver com criar um blog? Achava que de nada me serviria fazer um. Pensamentos eu tenho, e não é vontade o que me falta para escrevê-los. No entanto, sempre pensava: para quê? E se não interessar a ninguém? E se todos discordarem do que eu falo? Sentia-me invadida pelo medo, medo de ser pequena. Mas eu o sou, e agora não vejo mais isso da mesma forma de antes. Agora percebo que reconhecer-me pequena é também reconhecer o mundo como imenso! E é sobre essa imensidão que quero explanar. Mesmo que não tenha grandes finalidades aparentes, mesmo que ninguém o leia, mesmo que todos discordem. O importante é escrever, colocar em rascunhos minhas impressões acerca dessa imensidão que tanto me comove. O que é o meu blog em meio a tantos que existe? Quer a verdade: nada. Mesmo assim, sei que ninguém jamais escreverá o que aqui partilharei, e é por esse motivo que finalmente tive a coragem de transformar esses míseros rascunhos de pensamentos em um blog. Espero que quem leia também participe dessa construção de idéias, que talvez jamais estejam completas e, por isso mesmo, são apenas folhas de rascunho.