quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Vestibular UFC para Jornalismo: 23/11
Vestibular UFPE para Cinema: 23/11

Maldade ser no mesmo dia... Se possível, votem na enquete..

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Almoço desesperado

Sentaram-se na mesa mais próxima da janela, a fim de que o ambiente lhes parecesse um tanto agradável, apesar do calor que se fazia sentir.
A menina pediu o cardápio e, com carinho, olhou para o pai:
-Que vai querer?
-Qualquer coisa me satisfaz. Escolhe você.
E assim passaram a discutir sobre os exóticos pratos apresentados no cardápio e o que seria mais estranho consumir. Dessa forma a menina fazia a conversa correr solta, como se nada jamais pudesse perturbar momento tão cotidiano. Escolheram, por fim.
Enquanto esperavam, escutavam o vento passar, observando trivialidades ao redor: a formiga que passava apressada na mesa, a folha que voava livre por entre as pessoas do restaurante, o pé quebrado da cadeira ao lado.
-Como está quente, não pai?
-Sim, está.
-O que tem escutado?
-Não tenho tido tempo para escutar nada além do rádio.
-Que livros tem lido?
-Interrompi uma leitura de Saramago...
-A paisagem dessa janela é tão bonita! Queria ter uma paisagem como essa a ser apreciada da janela do meu quarto...
-E não tens paisagem alguma em tua janela?
-Tenho, a de casas alheias, e só
-Pelo a menos as tem, eu sempre miro o portão inerte ao abrir minha janela.
-Tão inerte como as casas que vejo.
-É, isso é bem verdade
-...
-O almoço está demorando, não, filha? Devo chamar o garçom?
-Pai...
-Sim?
-Estou indo embora!

Carta desesperada
"Como é difícil, como é difícil, Beatriz, escrever uma carta...
Antes escrever os Lusíadas!
Com uma carta pode acontecer
Que qualquer mentira venha ser verdade...
Olha! O melhor é te descrever, simplesmente,
A paisagem
Descrever sem nenhuma imagem, nenhuma...
Cada coisa é ela própria a sua maravilhosa imagem!
Agora mesmo parou de chover.
Não passa ninguém. Apenas
Um gato
Atravessa a rua
Como nos tempos quase imemoriais
Do cinema silencioso...
Sabes, Beatriz? Eu vou morrer!"
(Mario Quintana)