segunda-feira, 21 de julho de 2008

Casamento

Não sei muito bem porque, mas casamentos me intrigam. Toda vez que escuto que alguém vai se casar, os primeiros pensamentos que me vêm à mente são “será que eles realmente se amam?”, “será que vão mesmo se agüentar pelo resto de suas vidas?”, “será que vão suportar a monotonia que virá depois dos primeiros momentos de euforia?”

Fui a um casamento esse fim de semana, e as mesmas perguntas me perturbaram. Não acredito muito em casamentos, é verdade. Às vezes me parece que o matrimônio é um fato social tão forte, que as pessoas o fazem sem nem pensar direito se é este mesmo o rumo que desejam para suas vidas. Já está tão arraigada na sociedade a idéia do casamento, que me parece que algumas pessoas se sentem obrigadas a se casar, ou então simplesmente têm muito medo de morrerem sozinhas, ou quem sabe é um sonho que desde criança lhes foi imposto e, subitamente, tornou-se o maior objetivo de suas vidas. Ou não. Talvez realmente seja o verdadeiro amor o que faz com que tantos casais tomem a decisão de celebrarem votos de união eterna. Com certeza, vários deles se juntam por realmente desejarem passar o resto de suas vidas juntos... Mas será que eles sobreviverão às dificuldades do casamento? Perguntas idiotas, verdade. Afinal, o que tenho eu a ver com tais cerimônias que todo dia acontecem? Talvez eu tenha alimentado demais uma idéia horrenda sobre casamentos e tenha fechado minha mente para saídas mais amenas sobre este ato. O fato é que raras vezes consigo associá-lo com felicidade plena.

Enfim, lá estava eu como convidada desse dito casamento. Todos em pé, os padrinhos e madrinhas entrando, e a noiva sendo ansiosamente esperada por todos. Quando ela saiu do carro, esplêndida, trazida por seu pai, não entendi muito bem o que me ocorreu. Não sei se foi o violino que suavemente soava ou o entardecer que transcorria, mas meus olhos estranhamente se encheram de lágrimas. Quando olhei para o lado, minha irmã também estava com os olhos molhados. Rimos juntas, não sei se por estranharmos nossa súbita comoção ou se por uma sutil felicidade que tomava conta do ambiente. Que emoção terá me invadido? Será que, apesar de dizer todas essas coisas, no fim sou uma romântica que não resiste a essa estranha fascinação do enlace matrimonial?

Era uma cerimônia protestante. Noiva e noivo encontraram-se e uniram-se em frente ao pastor. Quando este disse que nossa amiga deveria ser submissa ao seu marido, minha mãe apertou minhas mãos. Com isso, ela quis dizer “não acredito estar ouvindo tamanho absurdo!”. Virando os olhos de impaciência, eu escutava o pastor proferir as obrigações que ele deveria ter para com sua mulher e a lista muito maior que ela deveria ter para com seu marido. Rindo baixinho, minha irmã sussurrou algo como “eles devem sair daqui quase que arrependidos de terem se casado!” Não tenho preconceitos com religiões, mas tenho o direito de me indignar com o papel que foi dado à mulher nessa ocasião específica. Minha comoção do começo havia rapidamente sido cortada. Eu desejava silenciosamente que ela jamais cumprisse a submissão de que lhe falavam.

Quando o sermão finalmente acabou, o jovem casal se virou e, com sorrisos, beijaram-se. E então se beijaram de novo. E então mais uma vez! E então eu voltava a me emocionar, a sorrir com olhos levemente molhados, a pensar “sim, eles estão apaixonados!”.

Naquele instante, resolvi esquecer as minhas apreensões quanto a casamentos. Se eles serão felizes mais tarde ou não, que me vale perguntar? Naquele momento eles pareciam felizes e tudo respirava romance! Pode soar ridículo, mas a cerimônia do casamento é realmente muito bonita, e descobri que me emociono com ela. Não sei se por achar que todo esse amor, que pelo menos parece existir, vai lentamente se esgotar, ou se sinto exatamente o contrário: que o momento do casamento representa o início da descoberta de um amor mais profundo e verdadeiro entre os dois.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Solitude

Ontem eu chorei. Nem estridente, nem demorado, meu choro me fez até bem. Foi assistido pelos carros vazios de passageiros, no estacionamento, e durou o tempo que um elevador gasta para chegar ao destino comandado. Ao entrar no apartamento, já tinha estampada a tranqüilidade em meu rosto, e um sorriso estava pronto a desbotar, caso alguém aparecesse. Foi com essas feições que segui para meu quarto, onde encarei no espelho olhos borrados de uma maquiagem mal feita e de um certo cansaço.

Havia me perdido no compasso de uma desilusão qualquer. Era como se tivesse esquecido qualquer noção de harmonia e, não conseguindo mais identificar a tônica da escala em que a música começara, não encontrava meios de finalizar aquele compasso. Somente a tônica me satisfaria naquele momento, porque eu desejava um encerramento que não desse idéia de continuidade. Não o encontrando, estava presa àquela canção infindável.

E no ritmo de uma melodia até serena, eu e a solidão buscávamos, juntas, os passos mais adequados a seguir. Em frente a um espelho já enferrujado, finalmente eu via a solitude tal qual ela era, com todas as suas formas quase perfeitas e suas definições quase poéticas. Naquele momento, somente a ela eu desejava. E era por ela que eu chorava.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Wall-E


Fui para a fila do cinema sem muita certeza do que gostaria de ver. O plano era comprar os ingressos para a nova animação da Disney – Pixar: Wall-E. Às vezes dispenso desenhos, é verdade. Não que eu não goste, mas alguns filmes infantis vez por outra se mostram tão clichês que têm esgotado meu desejo em vê-los. Uma apresentação dos personagens, alguns momentos de aventura e depois o final, onde tudo que se previra de bom acontece. É divertido, mas nem sempre tenho paciência para ver algo que há anos assisto.

Mas lá estava eu na fila do cinema, e decidi manter o combinado: assistiria a Wall-E. Não tinha lido ou visto nada sobre a animação, sequer um cartaz, mas resolvi arriscar pela segurança da genialidade Pixar.

Começa o filme. O ano é 2700. Wall-E é um robô que está a limpar a terra da imensidão de lixo deixada pelos humanos. Estes agora estão no espaço, uma vez que o planeta de origem tornou-se um lugar impossível para a existência de vida.

Rapidamente, o sentimental Wall-E cativa o espectador. Junto à sua baratinha de estimação, limpa com paciência e dedicação a Terra enquanto escuta à “Put on Your Sunday Clothes”, canção do clássico “Hello Dolly”. Sua sensibilidade é apresentada não apenas pelos olhos expressivos e um tanto melancólicos, mas também pela sua admiração tenaz por certos objetos que encontra em meio ao lixo. Coleciona-os em sua casa como verdadeiros tesouros.

Em sua morada também está a amada fita do musical “Hello Dolly”, escutada com especial atenção por Wall-E, principalmente na cena do romance entre os personagens Cornelius e Irene, com a música “It only takes a moment”. Mais uma vez evidenciamos a delicadeza do pequeno robô, que se encanta com o apertar de mãos do casal do filme. Nosso Wall-E sonha viver essa emoção do amor, num mundo devastado pela sujeira e pela solidão.

Dessa forma nos é apresentado o carismático Wall-E, com cenas praticamente sem falas e com uma ótima trilha sonora. As explicações verbais não são necessárias nesse momento do filme, o que não significa desatenção por parte dos adultos e pequeninos da sala de cinema, senão o contrário. O telespectador se vê inevitavelmente envolvido com o filme do começo ao fim. Antes de Wall-E, só o brilhante longa francês “As Bicicletas de Belleville” tinha me apresentado tal competência na animação. Wall-E cumpriu muito bem esse papel até, mais ou menos, a metade do filme.

Entra em cena novo peronagem. A robô Eve chega à Terra, despertando a atenção do solitário Wall-E. Logo ele se encanta pela nova companhia que aterrisa no planeta. O romance começa de forma encantadora, e assim continua no decorrer do filme. Eve, entretanto, veio com uma missão: procurar por uma planta. Quando o próprio Wall-E, apresentando carinhosamente a Eve sua preciosa coleção, mostra à Eve a planta que havia encontrado, o destino da robô se cumpre: ela se imobiliza para guardar o achado, até o momento de ser levada novamente para o espaço. Wall-E não a deixaria partir sem ele.
Extremamente cativante, a nova animação da Pixar demonstra o talento e a genialidade de seus criadores. Construíram um personagem que se faz conhecer aos telespectadores através de olhares, gestos e atitudes. As palavras não são necessárias para expressar a sensibilidade do robô Wall-E. A sutileza com certeza é valorizada nesse longa-metragem encantador, seguindo a nova linha de desenhos Pixar direcionados tanto às crianças como aos adultos. Saí da sala de cinema apaixonada pela animação que, no mínimo, deixa uma pontinha de esperança quanto ao futuro do nosso planeta, se tivermos a coragem de “reconstruí-lo” com amor. Aconselho para quem for ver o filme não deixar a sala antes de ver os créditos finais, repletos de belos desenhos que demonstram, de certa forma, a continuação do final do longa.
Não me arrependi de ter ido conhecer o sensível Wall-E!