Edukators, de título original “Die fetten Jahre sind vorbei” (“Os dias de fartura acabaram”, em alemão) é um filme incrível, que incita a discussões sobre capitalismo e revolução. Longe de ser uma produção clichê, o emaranhado de acontecimentos e as conversas ao longo do filme passam a envolver o espectador de maneira instigadora, levando este a refletir sobre as mais diversas questões.
O enredo gira em torno de três jovens. Jan e Peter fazem protestos pacíficos, invadindo mansões e desorganizando todos os objetos da casa. Deixam, por fim, uma frase: “Seus dias de fartura acabaram. Assinado: Os Edukadores” (entre outras frases). Jule é namorada de Peter. Passa por problemas financeiros por ter batido numa Mercedes. Quando Jule e Jan invadem a mansão do milionário Hardenberg, dono da Mercedes, nem tudo sai como o esperado. Jule esquece o celular e, voltando lá com Jan, são flagrados pelo dono da casa. A solução: seqüestrar o milionário e decidir o que fazer.
Por todo o filme, são levantadas discussões sobre a dificuldade de revolução nos dias atuais. Nos anos setenta, ter cabelo comprido, calça boca de sino e boina já era ser contra ao sistema. Mas e hoje? Como fazer revolução na sociedade capitalista vigente? Os jovens ainda têm ideais de mudança social?
Como bem diz Jan: quando as pessoas têm tempo para pensar em revolução assistindo a 4 horas diárias de televisão? Sofremos um verdadeiro bombardeio de propagandas e modelos comportamentais e ideológicos, que nos apresentam a felicidade como algo a ser comprado e consumido. A solidão e o individualismo que isso acarreta começarão a sufocar alguns mais sensíveis. “Os antidepressivos não vão mais funcionar”, dizia Jan para Hardenberg. Irão as pessoas buscar outras formas de se viver?
Dizia Jule: acham que já está tudo feito e não há mais nada a fazer. Ou então, aceitam o pensamento dominador de que é impossível mudar o mundo: as coisas estão aí e devemos simplesmente nos adaptar ao sistema. Essa é uma das grandes questões: como não se enquadrar no sistema? Uma parte interessante do filme é quando Hardenberg, que havia sido revolucionário na juventude, comenta a mudança que gradativamente sofreu: começou comprando um carro no qual se sentisse mais seguro; depois se casou, teve filhos, precisou sustentar a família, a educação é cara... De repente, se surpreende quando, numa eleição, seu voto é conservador. É possível fugir totalmente desse sistema? E nessa malha de acontecimentos, é possível não perder seus princípios?
Depois da descrença numa real mudança, a acomodação talvez seja um dos grandes empecilhos à guinada de uma revolução. Permanecer na inércia de não fazer nada, assimilando valores não condizentes aos seus, é quase como perder sua consciência sobre o que ocorre, simplesmente aceitando a opinião de terceiros como a verdade.
“Todo coração é um célula revolucionária”, escreveram Jan e Jule na parede do apartamento que ela havia alugado. Todos nós somos aptos a promover mudanças. Por que, então, não aspiramos a isso? Ou melhor, aspiramos, entretanto, porque não nos empenhamos em novas atitudes? Será que não temos nada a fazer, ou não temos motivos para fazer, ou simplesmente nunca pensamos sobre o assunto?
Essas são algumas das questões que sempre me vêm à mente quando vejo “Edukators”. Mas um texto meu jamais provocaria a sensação que o filme causa. De que algo está se perdendo, foi lentamente esquecido, mas que ainda permanece no coração de alguns insatisfeitos com o sistema.
Antes eu pensava que, na minha condição atual, não teria capacidade nem meios para realizar algo como os jovens de “Edukators”. Isso, entretanto, é o pensamento de um acomodado. Sempre há o que fazer, o importante é não permanecer indiferente a essas questões. É possível se fazer revolução nos dias de hoje? Existe algo a ser feito? Deixo essas perguntas aos leitores. Espero que me ajudem a responder. E, se possível, assistam a esse filme incrível!!
4 comentários:
viva la revolución!!!!
Oi filha. Você já leu os outros comentários que eu fiz? Dá uma olhadinha. Sobre o tema da revolução há muito sobre o que refletir. Eu ainda não votei na direita; continuo ainda apoiando o Lula. Na verdade, os meus dias de revolucionário político típico já passaram, ou eu já passei por eles. Eu fui revolucionário na igreja católica; era partidário da teologia da libertação (Leonardo Boff)no confronto com a renovação carismática. Em seguida, na universidade, participando de tendências anarquistas frente às marxistas. Depois, dentro do PT, participei do setor mais esquerdista, o trotskista, no embate com os stalinistas e os leninistas. Trabalhei muito na campanha de Maria Luísa, a primeira prefeita petista de uma capital brasileira (1985). Morei e trabalhei alguns anos na favela do Pirambu, junto com amigos. Fiz parte dos movimentos de Não-Violência, de educação popular com trabalhadores rurais, grupos indígenas e associação de moradores. Hoje, filha, trabalho na mais difícil revolução, a espiritual. É evidente que tudo o que eu vivi faz parte de mim, porque o fiz verdadeiramente. Aprendi que isso é o que vale: percorrer os caminhos que têm coração, não importando a forma externa, se revolucionário ou monge. Beijo do pai.
O seu texto é completamente válido, quando você reforça o filme.
Adorei Edukators quando o vi tbm.
Acho que a revolução começa por pequenos atos. Dentro de sua escola, faculdade, no meio em que vc vive.
Penso diferente de muitas pessoas que nao estão nem aí pra mudar alguma coisa. Mas agir hoje está complicado. Difícil. O sistema é forte. Embora, nosso pensamento seja mais forte do que tudo.
O importante é não se calar, mesmo que esteja "sozinho na multidão".
meu caro, esse texto é da thessa. coloque crédtios quando for postar um texto de outro autor, grato.
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