Eu e um grupo de amigos estamos com um projeto de fazer uma jornalzinho do colégio. Levamos o projeto à direção e este foi aprovado. Deram-nos, então, quinze dias para fazermos o esboço de um primeiro jornal, para que apresentássemos o projeto para os demais alunos do Ensino Médio. O plano seria assim divulgar e convidar os interessados a participar da produção do jornal.
Eis que nós oito escrevemos os textos para essa primeira edição. Escrevemos sobre a censura na ditadura militar, na sessão intitulada "Voltando na história"; escrevemos sobre a parcialidade na imprensa, na sessão "Atualidades", texto em que foi discorrido, entre outros exemplos, sobre a enorme atenção dada ao caso Isabella Nardoni; fizemos uma matéria sobre se o jovem de hoje ainda é político, em que discutimos sobre reivindicações estudantis e sobre entrevistas que fizemos com os jovens de Fortaleza; e fizemos uma resenha crítica sobre o filme "Uma onda no ar", na sessão de indicação de filmes, livros e sites.
Ao entregarmos o jornal devidamente digitado e diagramado para a psicóloga, eis o que ela nos diz: que estava numa linguagem muito difícil e densa para os alunos; que política não seria um assunto que despertaria o interesse dos outros estudantes; que tínhamos feito um jornal para nós, que éramos minoria, e deveríamos ter feito para a maioria; que os acontecimentos de 1964 seriam considerados pelos nossos colegas como "assunto do tempo do meu avô"; sugeriu que nos baseássemos em assuntos que revistas jovens já existentes abordam, como as mudanças que ocorrem no corpo no período da adolescência, o dilema entre namorar ou ficar, teste para ver se o jovem é estressado; para completar, ela ainda disse que o jornal estava muito revolucionário.
Falando parece até mentira, mas foi exatamente o que nos ocorreu hoje a tarde, escutamos tudo isso da psicóloga do nosso colégio. É triste pensar que até mesmo nossa psicóloga continua querendo reforçar a idéia de que o jovem do ensino médio não pensa sobre política, que o que deve interessar a ele são assuntos de natureza individual e não coletiva. É triste perceber que não recebemos o apoio do colégio para provarmos o contrário, que os jovens ainda pensam sim em política e ainda possuem um espírito revolucionário.
Mas apesar de falar tanto em tristeza, o que fizemos de verdade foi rir. Rimos muito da situação. Foi cômico ouví-la dizer que nosso jornal estava muito revolucionário, uma vez que era exatamente esse nosso objetivo e foi exatamente isso o que a incomodou. O interessante foi ver como realmente incomoda a instituições privadas, mesmo institutos de ensino, que jovens falem sobre reivindicação estudantil e política. Mais interessante ainda foi ter a certeza de que não nos sentimos nem um pouco desestimuladas a continuar com o projeto, senão o contrário: agora que o projeto está começando a acontecer realmente. Todos estão motivados a levar o projeto a frente e mostrar que os estudantes de colégio não são tapados nem burros, que eles pensam e agem. Veremos o que a psicóloga dirá quando os demais alunos concordarem com a publicação dessas matérias e escreverem sobre assuntos tão interessantes quanto. Como disse meu avô, é bom ser estudante, porque assim não seremos despedidos de emprego algum! ;p