terça-feira, 27 de maio de 2008

Jornalzinho censurado


Eu e um grupo de amigos estamos com um projeto de fazer uma jornalzinho do colégio. Levamos o projeto à direção e este foi aprovado. Deram-nos, então, quinze dias para fazermos o esboço de um primeiro jornal, para que apresentássemos o projeto para os demais alunos do Ensino Médio. O plano seria assim divulgar e convidar os interessados a participar da produção do jornal.

Eis que nós oito escrevemos os textos para essa primeira edição. Escrevemos sobre a censura na ditadura militar, na sessão intitulada "Voltando na história"; escrevemos sobre a parcialidade na imprensa, na sessão "Atualidades", texto em que foi discorrido, entre outros exemplos, sobre a enorme atenção dada ao caso Isabella Nardoni; fizemos uma matéria sobre se o jovem de hoje ainda é político, em que discutimos sobre reivindicações estudantis e sobre entrevistas que fizemos com os jovens de Fortaleza; e fizemos uma resenha crítica sobre o filme "Uma onda no ar", na sessão de indicação de filmes, livros e sites.

Ao entregarmos o jornal devidamente digitado e diagramado para a psicóloga, eis o que ela nos diz: que estava numa linguagem muito difícil e densa para os alunos; que política não seria um assunto que despertaria o interesse dos outros estudantes; que tínhamos feito um jornal para nós, que éramos minoria, e deveríamos ter feito para a maioria; que os acontecimentos de 1964 seriam considerados pelos nossos colegas como "assunto do tempo do meu avô"; sugeriu que nos baseássemos em assuntos que revistas jovens já existentes abordam, como as mudanças que ocorrem no corpo no período da adolescência, o dilema entre namorar ou ficar, teste para ver se o jovem é estressado; para completar, ela ainda disse que o jornal estava muito revolucionário.

Falando parece até mentira, mas foi exatamente o que nos ocorreu hoje a tarde, escutamos tudo isso da psicóloga do nosso colégio. É triste pensar que até mesmo nossa psicóloga continua querendo reforçar a idéia de que o jovem do ensino médio não pensa sobre política, que o que deve interessar a ele são assuntos de natureza individual e não coletiva. É triste perceber que não recebemos o apoio do colégio para provarmos o contrário, que os jovens ainda pensam sim em política e ainda possuem um espírito revolucionário.

Mas apesar de falar tanto em tristeza, o que fizemos de verdade foi rir. Rimos muito da situação. Foi cômico ouví-la dizer que nosso jornal estava muito revolucionário, uma vez que era exatamente esse nosso objetivo e foi exatamente isso o que a incomodou. O interessante foi ver como realmente incomoda a instituições privadas, mesmo institutos de ensino, que jovens falem sobre reivindicação estudantil e política. Mais interessante ainda foi ter a certeza de que não nos sentimos nem um pouco desestimuladas a continuar com o projeto, senão o contrário: agora que o projeto está começando a acontecer realmente. Todos estão motivados a levar o projeto a frente e mostrar que os estudantes de colégio não são tapados nem burros, que eles pensam e agem. Veremos o que a psicóloga dirá quando os demais alunos concordarem com a publicação dessas matérias e escreverem sobre assuntos tão interessantes quanto. Como disse meu avô, é bom ser estudante, porque assim não seremos despedidos de emprego algum! ;p

sábado, 10 de maio de 2008

Mario Quintana


Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!

Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!

'Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!'
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
'Que tédio!' o coro dos Amigos clama.

'Mas que vos dar de novo e de imprevisto?'
Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
'Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!'

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Björk's songs


Quando a música começa, tudo me parece diferente. A chuva, o entardecer, a lua que desponta lá fora... Os rostos, os olhares, os modos de andar... Os abraços, os beijos, as alegrias dos que caminham nas ruas solitárias, tímidos ante meus olhos observadores... Fico mais sensível a tudo. Parece a cena de um curta mudo, mas expressivo, melancólico, sutil, esplêndido.
Nada me vem à mente a não ser o que está externo a mim. O que é inerente à minha alma vagueia em busca de lugares que aceitem perdas inestimáveis e culposas. Sonhos de outrora se expressam agora numa ausência indecifrável.
E o curta continua, levando-me ao som dessa voz esplêndida, para um mundo onde tudo me pertence, o concreto e o abstrato. Só me resta fechar os olhos para o que não é mágico e simplório ao mesmo tempo, guardando todo o resto em minha alma errante nesses curtos minutos de tristeza e beleza.
Parte do que vivi passa rapidamente em minha mente durante a música, se expressando no meu olhar aparentemente vazio, mas cheio de vivacidade e paixão.

A música termina, volto ao mundo real, são os mesmos rostos, os mesmos asfaltos, as mesmas vidraças. O que era monocromático volta a ter cores incômodas, e o aspecto de sonho se desvanece para dar lugar ao concreto.
Escutá-la antes de dormir me dá medo...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Feriado

Mais um dia, nada demais. Mal lembro que pensamentos me ocorreram ao acordar, nem o que comi pela manhã. E também não tenho desejo de me lembrar, não faz diferença agora. Nada me perturba nem nada me agrada. Estou apenas como uma mera observadora dos acontecimentos, mas um tanto afastada, um tanto indiferente a eles, como se agora, finalmente, habitasse um pouco de paz em mim.

É apenas um dia vazio, não há nada para explanar sobre. Minha mente foi ocupada, por algumas horas, pelos povos da Antigüidade. Mas por alguma razão, estes não me pareceram mais tão maravilhosos hoje. Eram apenas letras num livro já velho, gasto pelo uso, com folhas amareladas marcadas pelo tempo, que outrora foram folheadas por estudantes como eu, ora impressionados, ora cansados. Todavia, não me sinto de nenhuma dessas formas hoje. Não hoje, tão somente hoje.

E amanhã volto ao cotidiano de sempre, eternamente igual, até os últimos raios de sol dos meus dias finais. Porque sempre haverá um que de mesmice, de tédio, de nada, seja qual for o ritmo dos meus dias futuros. E espero que, quando estes chegarem, eu não esteja, como agora, pensando em outros dias futuros...

E continuo sem nada para fazer, com pensamentos tão tediosos quanto esse texto. Ora aguardando o amanhã, quando me verei livre de pensar sobre isso, envolvida nos pequenos problemas diários; ora vivendo esse vazio sem fim das tardes de feriado.