Fui para a fila do cinema sem muita certeza do que gostaria de ver. O plano era comprar os ingressos para a nova animação da Disney – Pixar: Wall-E. Às vezes dispenso desenhos, é verdade. Não que eu não goste, mas alguns filmes infantis vez por outra se mostram tão clichês que têm esgotado meu desejo em vê-los. Uma apresentação dos personagens, alguns momentos de aventura e depois o final, onde tudo que se previra de bom acontece. É divertido, mas nem sempre tenho paciência para ver algo que há anos assisto.
Mas lá estava eu na fila do cinema, e decidi manter o combinado: assistiria a Wall-E. Não tinha lido ou visto nada sobre a animação, sequer um cartaz, mas resolvi arriscar pela segurança da genialidade Pixar.
Começa o filme. O ano é 2700. Wall-E é um robô que está a limpar a terra da imensidão de lixo deixada pelos humanos. Estes agora estão no espaço, uma vez que o planeta de origem tornou-se um lugar impossível para a existência de vida.
Rapidamente, o sentimental Wall-E cativa o espectador. Junto à sua baratinha de estimação, limpa com paciência e dedicação a Terra enquanto escuta à “Put on Your Sunday Clothes”, canção do clássico “Hello Dolly”. Sua sensibilidade é apresentada não apenas pelos olhos expressivos e um tanto melancólicos, mas também pela sua admiração tenaz por certos objetos que encontra em meio ao lixo. Coleciona-os em sua casa como verdadeiros tesouros.
Em sua morada também está a amada fita do musical “Hello Dolly”, escutada com especial atenção por Wall-E, principalmente na cena do romance entre os personagens Cornelius e Irene, com a música “It only takes a moment”. Mais uma vez evidenciamos a delicadeza do pequeno robô, que se encanta com o apertar de mãos do casal do filme. Nosso Wall-E sonha viver essa emoção do amor, num mundo devastado pela sujeira e pela solidão.
Dessa forma nos é apresentado o carismático Wall-E, com cenas praticamente sem falas e com uma ótima trilha sonora. As explicações verbais não são necessárias nesse momento do filme, o que não significa desatenção por parte dos adultos e pequeninos da sala de cinema, senão o contrário. O telespectador se vê inevitavelmente envolvido com o filme do começo ao fim. Antes de Wall-E, só o brilhante longa francês “As Bicicletas de Belleville” tinha me apresentado tal competência na animação. Wall-E cumpriu muito bem esse papel até, mais ou menos, a metade do filme.
Entra em cena novo peronagem. A robô Eve chega à Terra, despertando a atenção do solitário Wall-E. Logo ele se encanta pela nova companhia que aterrisa no planeta. O romance começa de forma encantadora, e assim continua no decorrer do filme. Eve, entretanto, veio com uma missão: procurar por uma planta. Quando o próprio Wall-E, apresentando carinhosamente a Eve sua preciosa coleção, mostra à Eve a planta que havia encontrado, o destino da robô se cumpre: ela se imobiliza para guardar o achado, até o momento de ser levada novamente para o espaço. Wall-E não a deixaria partir sem ele.
Extremamente cativante, a nova animação da Pixar demonstra o talento e a genialidade de seus criadores. Construíram um personagem que se faz conhecer aos telespectadores através de olhares, gestos e atitudes. As palavras não são necessárias para expressar a sensibilidade do robô Wall-E. A sutileza com certeza é valorizada nesse longa-metragem encantador, seguindo a nova linha de desenhos Pixar direcionados tanto às crianças como aos adultos. Saí da sala de cinema apaixonada pela animação que, no mínimo, deixa uma pontinha de esperança quanto ao futuro do nosso planeta, se tivermos a coragem de “reconstruí-lo” com amor. Aconselho para quem for ver o filme não deixar a sala antes de ver os créditos finais, repletos de belos desenhos que demonstram, de certa forma, a continuação do final do longa.
Não me arrependi de ter ido conhecer o sensível Wall-E!