Fui a um casamento esse fim de semana, e as mesmas perguntas me perturbaram. Não acredito muito em casamentos, é verdade. Às vezes me parece que o matrimônio é um fato social tão forte, que as pessoas o fazem sem nem pensar direito se é este mesmo o rumo que desejam para suas vidas. Já está tão arraigada na sociedade a idéia do casamento, que me parece que algumas pessoas se sentem obrigadas a se casar, ou então simplesmente têm muito medo de morrerem sozinhas, ou quem sabe é um sonho que desde criança lhes foi imposto e, subitamente, tornou-se o maior objetivo de suas vidas. Ou não. Talvez realmente seja o verdadeiro amor o que faz com que tantos casais tomem a decisão de celebrarem votos de união eterna. Com certeza, vários deles se juntam por realmente desejarem passar o resto de suas vidas juntos... Mas será que eles sobreviverão às dificuldades do casamento? Perguntas idiotas, verdade. Afinal, o que tenho eu a ver com tais cerimônias que todo dia acontecem? Talvez eu tenha alimentado demais uma idéia horrenda sobre casamentos e tenha fechado minha mente para saídas mais amenas sobre este ato. O fato é que raras vezes consigo associá-lo com felicidade plena.
Enfim, lá estava eu como convidada desse dito casamento. Todos em pé, os padrinhos e madrinhas entrando, e a noiva sendo ansiosamente esperada por todos. Quando ela saiu do carro, esplêndida, trazida por seu pai, não entendi muito bem o que me ocorreu. Não sei se foi o violino que suavemente soava ou o entardecer que transcorria, mas meus olhos estranhamente se encheram de lágrimas. Quando olhei para o lado, minha irmã também estava com os olhos molhados. Rimos juntas, não sei se por estranharmos nossa súbita comoção ou se por uma sutil felicidade que tomava conta do ambiente. Que emoção terá me invadido? Será que, apesar de dizer todas essas coisas, no fim sou uma romântica que não resiste a essa estranha fascinação do enlace matrimonial?
Era uma cerimônia protestante. Noiva e noivo encontraram-se e uniram-se em frente ao pastor. Quando este disse que nossa amiga deveria ser submissa ao seu marido, minha mãe apertou minhas mãos. Com isso, ela quis dizer “não acredito estar ouvindo tamanho absurdo!”. Virando os olhos de impaciência, eu escutava o pastor proferir as obrigações que ele deveria ter para com sua mulher e a lista muito maior que ela deveria ter para com seu marido. Rindo baixinho, minha irmã sussurrou algo como “eles devem sair daqui quase que arrependidos de terem se casado!” Não tenho preconceitos com religiões, mas tenho o direito de me indignar com o papel que foi dado à mulher nessa ocasião específica. Minha comoção do começo havia rapidamente sido cortada. Eu desejava silenciosamente que ela jamais cumprisse a submissão de que lhe falavam.
Quando o sermão finalmente acabou, o jovem casal se virou e, com sorrisos, beijaram-se. E então se beijaram de novo. E então mais uma vez! E então eu voltava a me emocionar, a sorrir com olhos levemente molhados, a pensar “sim, eles estão apaixonados!”.
Naquele instante, resolvi esquecer as minhas apreensões quanto a casamentos. Se eles serão felizes mais tarde ou não, que me vale perguntar? Naquele momento eles pareciam felizes e tudo respirava romance! Pode soar ridículo, mas a cerimônia do casamento é realmente muito bonita, e descobri que me emociono com ela. Não sei se por achar que todo esse amor, que pelo menos parece existir, vai lentamente se esgotar, ou se sinto exatamente o contrário: que o momento do casamento representa o início da descoberta de um amor mais profundo e verdadeiro entre os dois.