
Quadro de Salvador Dali "Sonho Causado Pelo Vôo de uma Abelha ao Redor de Uma Romã um Segundo Antes de Acordar"
O ser humano parece sempre se cansar de tudo. Se cansa da rotina que leva, do trabalho que realiza, às vezes até mesmo das pessoas com quem convive todos os dias. Reclama da falta de emoções, de aventura, de novidades. Parece enjoar de tudo e sentir a necessidade de ver aflorar todas as suas paixões, como se desejasse que estas se materializassem na sua frente, em busca de qualquer coisa maior.
Inicia, pois, um esquecimento de tudo que antes lhe era de imenso valor, a procura de novas sensações. Não as encontrando, entra em depressão e profunda melancolia, dizendo não haver mais sentido em sua vida. Quando, entretanto, tem seu intento realizado, e perde de alguma forma tudo aquilo que dizia lhe entediar, entra em profundo arrependimento. E chora, e grita, e esperneia, como uma criança, desejando novamente o que outrora lhe pertencia. Descobre que as aventuras a que se entregou não são o que precisava. Alega tal incoerência dizendo antes não enxergar o quão feliz era. Só agora consegue ver a felicidade que tinha em mãos, mas que deixou esvair-se por entre os dedos.
Quão cegos somos nós, seres humanos, que precisamos perder o que temos para darmos a devida importância. Porque só conseguimos enxergar o que se faz extremamente brilhante, brilho este provindo, entretanto, de falsas lantejoulas. O que sempre estava lá, que era, na verdade, o que nos movia a continuar, não percebíamos como essencial. Como a água, que todos os dias bebemos, nos mantém vivos, nos é essencial e, todavia, insistimos em dizer que é insípida, incolor e inodora, sem nunca pensar que sem ela jamais existiríamos. Estamos sempre procurando algo mais que simplesmente a vida, em vez de reconhecê-la a todo momento em cada manhã, em cada ação e em cada pessoa. Mas não, precisamos de emoções repentinas e avassaladoras para nos incendiar e nos dar a certeza de que estamos ali. Somos tão extremamente limitados, que não enxergamos a felicidade no mais despercebido detalhe. Quando perdermos este, será a mais grandiosa saudade. Resta-nos descobrir qual esse detalhe, que mantém nossa chama discretamente acesa, entretanto com a intensidade necessária para se perpetuar até nossa morte. Ações, momentos, pessoas...? Próprio de cada um desvendar...